quinta-feira, 5 de março de 2009

O MAU DE SER FELIZ


Não queiram ser felizes, meus amigos.
A felicidade é a fraqueza do forte
E a cegueira do sábio.

Felicidade é flor de papel
E nela não há diferença
Entre a terra e o céu.

Nela não há surpresas.
Nenhuma nota emerge do silêncio
Para o deleite dos ouvidos.

Os livros não criam asas
E a poesia não pula o muro
A fim de seqüestrá-los.

Sejamos tristes, meus amigos.
Plantemos lindas bombas
Em nossas caixas de correio.

Sejamos tristes até o infinito,
Tristes em casa e na rua,
No clube, no circo, nos bares...

Sejamos tristes até a medula e
Façamos desta vida ressequida
Nossa estranha diversão.

Igor Roosevelt

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

ESPELHO FALSO


Meu olhar é uma vela no escuro
Um tiro no muro
Que me faz dizer não.

É um espelho que mente
Como flores de sangue
Espalhadas no chão.

Mas a farsa sincera
Desta falsa mentira
Na verdade é um véu.

Meu olhar é sem igual
- toupeira transcendental
Cavando buracos no céu.

Igor Roosevelt

quarta-feira, 16 de julho de 2008

VISÕES (OS PÁSSAROS)


Os Pássaros pousam
Semi-breves sobre os fios...
Pentagrama elétrico...

Igor Roosevelt

terça-feira, 13 de maio de 2008

DESILUSÃO*

De repente o medo
rompe das águas da manhã
e paira no ar como se planejasse
o fim... Não! O começo
de toda forma aniquilada,
de todo sonho feito pó
em caixas presas,
de toda sorte
amargurada,
de tudo um pouco
ou quase nada
que se sustente
no vácuo imóvel.
De repente o medo
se repete nas folhas de jornal,
nas drásticas afirmações
que fogem antes da batalha...
E de repente a forca,
o pulso preso, a força,
o medo mudo, a náusea,
a dor de tudo, a bosta...

*Pode parecer piegas, mas este poema foi escrito depois que recebi a notícia de que meu candidato a Reitor havia perdido as eleições. Fiquei desolado e escrevi isto, mas ele pode ser interpretado e utilizado em várias outras ocasiões, políticas ou não.

sábado, 19 de abril de 2008

UM CONTO DE METAL

Fiquei sabendo
que você era rockeira
desejei-te a vida inteira
essa é a hora de tentar.

Eu joguei fora
meus cd's de Fábio Júnior
levo o Ozzy no meu punho
só pra te impressionar.

Só uso preto
se tornou meu pesadelo
ter que cortar o cabelo
ou usar uma outra cor.

Comprei um disco
desse tal de Sex Pistols
meu ouvido não suporta
mas meu coração gostou.

Tomei uísque
tomei pinga, tomei vinho
transformei o meu caminho
onde o vinho me conduz.

Virei ateu,
virei gnóstico, budista,
só não quis deixar na vista
que meu nome era Jesus.

Fiquei com medo
de escrever-te uma poesia
pois tão grande é a agonia
que me causa teu amor.

Roubei uns versos
de Carlos Drummond de Andrade
e disse que era na verdade
Dylan Thomas e Rimbaud.

Fiquei sabendo
que você curte cinema
e pra melhorar o esquema
muita coisa eu assisti.

Eu vi Carlitos
mesmo mudo causar riso,
vi "Cinema Paradiso"
e Glauber Rocha eu não entendi.

Fiquei pensando
as coincidências que não temos
li "A Era dos Extremos"
só pra gente debater.

E depois disso
tatuei todo o meu braço,
dei uns tapas no barato
mesmo sem sentir prazer...

Não fiz a barba
pra virar socialista
fiz pose de guitarrista
pra você olhar pra mim.

Pintei uns quadros
pra expor na galeria
mas você sequer os via.
Por que as coisas são assim?

Comprei uns livros
de ciências, de magia,
de história e filosofiapra
poder te emprestar.

Eu fiz uns versos,
inventei uma paranóia,
tentei dar uma de Goya,
fiz sonatas ao luar.

Eu tive amigos,
tive fãs e seguidores,
tive amores, tive dores,
mas você nunca terei.

Eu já sabia
meu destino era maldito
já dizia Raulzito:
Sou cowboy fora da lei.

Igor Roosevelt

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

CREPÚSCOLO DOS ÍDOLOS




“Pela tristeza do que eu tenho sido”,
Pelo esplendor do que eu deixei de ser”

Olavo Bilac

“Ontem eu fiquei tão velho,
Eu me sentia como se pudesse morrer.
Ontem eu fiquei tão velho, Isso me fez querer chorar...”

The Cure; in between days

Em menos de um mês eu farei 21. Sei que sou jovem, mas a forma como minha vida passou faz com que eu me sinta tão velho. Farei 21 e o que eu fiz da minha vida? Para um “poeta maldito” como eu já é tempo de pensar em...Minha vida sempre foi uma viajem solitária, e pior, improdutiva. Praticamente aprendi a ler com17 anos. Antes disso eu ficava tentando me adequar aos padrões sociais, em vão. Resolvi então tomar conta de mim e assumir minha solidão. Não falo aqui de solidão física, mas de solidão de idéias, valores, interesses, objetivos...Mas abri meus olhos muitos tarde. Sei que tenho um certo talento, mas se eu tivesse começado mais cedo...
Somente aos 20 anos comecei definitvamente-espero-meu curso superior. Antes já tinha feito outros, mas fatores mais fortes que eu me forçaram a abandoná-los. Sei que existem pessoas que entram bem mais tarde, e que existem aqueles que nunca entram numa universidade, e que eu posso estar sendo um ingrato. Mas para uma pessoa como eu isso é muito diferente. Às vezes sou muito autodestrutivo, mas na maioria das vezes sou muito egocêntrico, quase megalomaníaco. Sinto que nasci para ser grande, mas que, no entanto, desperdicei muito tempo da minha vida com bobagens-talvez por isso eu seja autodestrutivo. Álvares de Azevedo morreu aos 20 e deixou a “Lira dos 20 anos”. E eu, o que fiz com 20 anos? Talvez seja exagero me comparar com Álvares de Azevedo ou com Rimbaud. Sei que não sou tão bom quanto eles, mas também não queria estar tão aquém dos grandes escritores. Em verdade sinto-me muito medíocre, talvez não porque o seja necessariamente, mas por não me esforçar o bastante.

“Fiz de mim o que não soube,/ e o que podia fazer não o fiz./O dominó que vesti era errado/ conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me./ Quando quis tirar a máscara,/ estava pregada à cara./ Quando a tirei e me vi no espelho,/ já tinha envelhecido.”

Fernando Pessoa

“Choro como uma criança enquanto os anos me tornam mais velho”, dizem os versos de “The Eternal”, música da banda de rock inglesa Joy Division. As antíteses são sempre muito interessantes e esta tem para mim um significado especial. Além do meu potencial eternamente desperdiçado, também contribui para minha tristeza senil o fato de ter esperado, esperado a minha vida inteira por um trem que nunca chegou nesta estação. Talvez tivesse chegado, mas partiu cedo, sem mim. É triste quando se espera e se deposita todas as suas energias em alguma coisa ela falha. Por mais que se tente pensar que não foi “tempo perdida” esta é a horrível sensação que fica. Agora sinto que é tarde para recomeçar. Sou velho demais pra sonhar. E, acreditem, desistir dos meus sonhos é uma violência que cometo contra mim mesmo.

“Toda vez que eu me olho espelho
Todas estas linhas no meu rosto se clareiam.
O passado se foi,
Passou como o crepúsculo à aurora.
Não é desse jeito que
Todo mundo tem que pagar suas dívidas na vida?(...)
Cante comigo, cante pelos anos,
Canta pelo riso e cante pelas lágrimas,
Cante comigo, se for apenas por hoje,
Talvez amanhã o bom senhor o levará.”

Aerosmith; Dream on

“Uma aurora que morre de velhice”, é assim que eu descrevo minha juventude. Na infância não fui criança. Estava sempre trancado em casa tomando conta do meu irmão entre outras responsabilidades. Talvez por minha extrema timidez não tive amigos. Por viver sempre partindo ninguém permaneceu na minha vida. Na adolescência eu era o “monstro de Frankenstein”. Era estranho, calado, reservado. Vivia esperando o dia que encontraria alguém que me entendesse e não movi um dedo, não revirei uma pedra afim de procurá-la. Às vezes a esperança é o que dói mais. Depois resolvi cuidar de mim. Tive muitos amigos neste tempo, mas os amigos têm o estranho hábito de desaparecer quando precisamos deles. O que eu tanto esperava enfim chegou, mas as circunstancias me obrigaram a renunciar meu paraíso. Por isso me sinto tão velho...Acho que não tenho mais ânimo para sofrer de esperança. Em pouco tempo terei que escolher o homem que serei para o resto da vida e acho que este ser amargo e solitário vai prevalecer.

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

(Olavo Bilac; Remorso)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

APRESENTAÇÃO


Esta é minha primeira postagem. Por isso eu gostaria de jogar um pouco de conversa fora, já que não tenho nada melhor pra escrever. Hoje estou relativamente bem. Não sei porque mas sinto-me estranhamente feliz ao encontrar meus amigos. Talvez por me sentir tão estranho aos olhos deste mundo eu me sinta bem ao encontrar alguém com quem conversar. Há pouco tempo decidi dar a mim mesmo uma "existência autêntica", como diria Martin Heidegger. Abandonei meu curso de psicologia para seguir filosofia. Porém às vezes eu penso que não vou chegar a lugar nenhum. Sei que sou um bom estudante mas fico muito aquém dos meus desejos, das minhas nescessidades. Embora eu me sinto um pouco bem hoje, meus dias tem sido muito difíceis. Tenho me sentido muito só e desamparado neste momento em que eu tanto precisava de apoio. Mas tudo bem...as coisas são assim mesmo. Se eu não pedir, não clamar, não gritar, não implorar, como alguém vai saber o que está se passando comigo? Por ser muito difícil pra mim falar sobre estas coisas minha situação piora ainda mais. Eu gostaria de ter alguém que, ao olhar pra mim soubesse que eu não estou bem. Mas isso talvez seja muito romantismo da minha parte. Bem...por hoje já é o bastante.
Dedico a Giovana "Butterfly Blue". Prometo que no próximo eu publico algo menos desinteressante.